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Entrevista com Marcelo Pinto Guimarães,
preparatória para a matéria

"Novo Conceito Prega a Casa Democrática,"
da Folha de São Paulo, em 2002

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1 - Por que, e de que forma, o conceito de dessenho universal prevê que uma casa deve ser acessível ao maior número de pessoas, das mais diferentes faixas etárias? Pode citar exemplos de como isso é possível, na prática?

Primeiramente, devo salientar que o conceito de Desenho Universal, ou melhor dizendo, o Design Universal (desenho = projeto, planejamento, programação) é muito amplo e se aplica em todos os níveis de atividade com o ambiente construido e não somente em relação à habitação. Por exemplo, o design universal se aplica em informática na forma de utilização dos computadores. As populares plataformas Windows e Mac possuem formas de ajuste dos controles por usuários com diferentes características e habili dades, variando a velocidade da digitação, o tamanho das letras o contraste de cores etc. Atualmente, sites da internet possuem elementos que permitem que pessoas com deficiência visual possam navegar mesmo com o alto número de imagens no conteúdo. O design universal está no mobiliário que admite ajustes para acomodar confortavelmente pessoas de tamanhos e pesos diferentes ou ainda que possibilitam diferentes arranjos para maximização da área útil horizontal e vertical. O design universal está nos equipamentos que eliminam esforços manuais intensos ou repetitivos minimizando acidentes por descuidos tais como portões de abertura radio-eletrônica, ferros de passar que se desligam automaticamente, geladeiras auto-descongenlantes, telefones com teclas de auto-discagem, O design universal está nos utensílios que muitas vezes conhecemos em feiras de produtos exóticos como aquele tipo de descascador de batatas operado por uma só mão. O design universal está nos transportes em veículos particulares que possuem espaço suficiente e portas de correr amplas e originais de fábrica, permitindo que uma família possa guardar malas e objetos variados além é claro de uma cadeira de rodas ou triciclo motorizado para idosos. O design universal está nas telecomunicações quando TVs com teclas closed-caption facilitam que pessoas com problemas de audição ou simplesmente estrangeiros acompanhem programas lendo as falas e anúncios.

Muitos desses exemplos são de objetos e de elementos ambientais que fazem parte do dia-a-dia. Contudo, é necessário que muito mais seja incluido nessa listagem de produtos que libertam as pessoas de tarefas estressantes, as vezes perigosas mas muitas vezes que são fatores de exclusão social. Devemos evitar que novos produtos permaneçam inacessíveis a parte de seus prováveis usuários. Por exemplo, ainda são fabricados telefones públicos que excluem pessoas muito baixas ou que usam cadeiras de rodas. Com o advento de terminais de internet, vários quiosques estão sendo implantados sem considerar o possível ajuste de alturas. Design universal é fator de verificação de qualidade sobre a interação do elemento ambiental com o usário, criando assim o que se diz em inglês uma interação amigável entre pessoa e objeto.

Uma casa deve ser acessível para qualquer pessoa independente de sua idade ou condição física. Casas são construidas na perspectiva de utilização ou de comercialização. Em ambos os casos, o investimento financeiro é muito grande e só se justifica quando o benefício social se equivale. Quando se constroi ou se compra uma moradia, o futuro ocupante deve pensar que a casa poderá abrigar crianças, jovens, adultos e idosos, sejam eles parentes ou não. Só assim a moradia estará cumprindo sua função em todo o ciclo de vida para a qual foi feita. Além disso, é real e paupável a possibilidade de que deficiências ocorram na vida de uma pessoa; isso implica uma enorme alteração nos padrões de vida. Somente em ambientes que dêem suporte ao comportamento ativo nas tarefas de vida diária é que traumas de vida como esse podem ser superados. Finalmente, temos que considerar o envelhecimento da população. Isso está ocorrendo de forma acelerada. Não dá pra considerarmos pessoas vivendo mais e com menos qualidade de vida.

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2- Qual a importância do design universal para a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas, independentemente de serem portadoras de deficiência?

Para responder isso tenho que considerar as deficiências de todo dia. Nesse caso, todos nós vivemos com uma deficiência ao lidarmos com soluções de design que não se ajustam às nossas habilidades mesmo que temporariamente afetadas por um problema que exige de nossas condições físicas como, por exemplo, carregar uma criança no colo ao subirmos num ônibus ou carregar sacolas de compra escadas acima após chegar do super-mercado com o carro lotado. Quando escorregamos num piso estremamente polido ou ensaboado, antes de raciocinarmos sobre o motivo ou responsabilidade pela situação de risco, queremos nos safar do acidente e isso pode ser conseguido se por acaso tivermos algo a que possamos nos agarrar. Quando andamos por um espaço público e agradável, esperamos que esse espaço esteja adequadamente iluminado, oferecendo estabilidade e segurança, indicando direções e facilitando o descanso em locais tranquilos.Design universal prevê a possibilidade de situações como essa e inclui esse suporte onde seja necessário. Um ambiente construido em função do Design universal favorece a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas justamente porque considera situações onde pessoas portadoras de deficiência possam usufruir o que é comum a todos. O Design universal atua num espaço intermediário entre o design especializado para uma população específica e o design convencional que é direcionado para um público simplesmente classificado como normal. Ao invés de conter proposições que abordam aspectos de reabilitação física, o que é constante em ambientes institucionais, o Design universal liberta soluções de acessibilidade para pessoas com deficiência do estigma de serem soluções parciais, incompletas e incomuns.Por outro lado o Design universal liberta soluções de design convencionais por não permitirem segurança e acessibilidade às diferentes gerações de usuários.

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3 - No exterior o conceito já é bastante difundido? As pessoas procuram arquitetos tendo em mente a construção de uma habitação que atenda aos padrões do design universal?

Infelizmente, o conceito de design universal tem difusão ainda restrita aos ambientes acadêmicos, nas instituições e nas indústrias de produtos "inteligentes." O grande público consumidor (geralmente jovens casais e pessoas solteiras em idade produtiva) reage favoravelmente ao conceito ("parece tão óbvio e lógico") quando expostas a ele mas não conhece meios de acelerar o processo de disseminação dessas idéias sobre formas convencionais de desenho. Por outro lado, as pessoas mais idosas tem poder aquisitivo e isso tem sido essencial para a crescente demanda por desenho ambiental em moradias. Noutros países, arquitetos e designers de produtos estão mais familiarizados com o conceito que os arquitetos e designers brasileiros. São obrigados a cumprir uma forte legislação para acessibilidade em todos os níveis e vêem no Design Universal uma forma de se diferenciarem pela qualidade. Além disso, o Design universal tem sido visto como associado a formas de design ecológico ou sustentável. Isso tem contribuido para a expansão do conceito ainda mais no planejamento urbano que indentifica meios para tornar a cidade mais humana e acessível a todos.

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4 - Existem feiras/congressos/eventos sobre desenho universal? Onde? São grandes? Bastante freqüentados?

Nos Estados Unidos, onde o movimento pelo Design Universal teve início, é comum competições regionais e nacionais de design entre Universidades. Em todas elas, a exigência quanto à inclusão de considerações sobre design universal é constante. No âmbito internacional, conferências tem sido realizadas e bastantes frequentatadas como em Hofstra, NY, 1999, e Providence, RI, 2000, nos Estados Unidos. Outros países onde o desenvolvimento de ações profissionais, privadas e institucionais públicas são marcantes são a Suécia, a Inglaterra, o Canadá, o Japão. Participaram da conferência em Providence cerca de 41 instituições de 28 países. O Brasil teve participação através do trabalho do laboratório ADAPTSE da UFMG. Nesses eventos, o Laboratório apresentou sua proposta para uma escala de graduação da acessbilidade nas cidades através de estímulos municipais até que sejam alcançados níveis de Design universal em espaços urbanos e edifícios públicos e multifamiliares.

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5 - Você tem dados/pesquisas sobre o que as pessoas pensam sobre o design universal, ou sobre quais os países que adotam mais fortemente o conceito, ou sobre quais são as principais dificuldades que as pessoas (crianças, idosos, grávidas, deficientes) encontram no uso de uma residência?

O conhecimento sobre design universal está se expandindo rapidamente através da internet onde é possível obter informações detalhadas sobre os princípios de Desenho universal, adquirir publicações, participar de eventos e enviar contribuições.

Eis aqui alguns sites interessantes:

The Center for Universal Design
Adaptive Environments
IDEA Center

Bad Designs

Infelizmente, as homepages dos centros de pesquisa onde o design universal tem sido explorado são em inglês. Existem iniciativas de tradução dos sites em várias línguas de modo a estender o conceito inclusive pela forma de abrangência.

Meu principal interesse na dissertação de doutorado está em analisar formas de sensibilização pública sobre o conceito do design universal usando para isso jogos educativos. Jogos por computador incluindo conteúdos na internet tem sido amplamente aplicados como meio auxiliar de educação de crianças e adolescentes em escolas americanas. Além disso, jogos que estimulem a busca de conteúdos pela internet podem ter papel auxiliar na introdução do design universal junto aos currículos de desenho de produtos e de arquitetura. Explorando aspectos originais desse meio de comunicação, os jogos que simulam a atuação de papéis sociais sob impacto de diferentes deficiências podem predispor as pessoas a desenvolverem um olhar crítico sobre as formas de design, descartando soluções convencionais excludentes e elegendo soluções de Design universal. Acredito que o sucesso do Design universal está na possibilidade de oferecer às pessoas a chance de se sentirem mais livres e humanas sem terem que dispender tanto esforço para isso.

Entrevista de Marcelo Pinto Guimarães,
concedida por e-mail em 01/10.2002
para o Jornalista Antonio Arruda,
publicada na Folha de São Paulo,
em 10/10/2002

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