contato: | Entrevista com Marcelo Pinto Guimarães, .......................................................................topo da página 1) Por que esse conceito de projetos
acessíveis a todos ainda não é tão difundido no Brasil? A preocupação é
recente ou simplesmente não existe? Em termos de conscientização da população alvo, a situação do Brasil não é diferente da de muitos países onde a busca por qualidade de soluções ambientais reflete muito mais uma preocupação por estilos, materiais e requinte do que funcionalidade, usabilidade, e familiarização com caminhos e referências. É preciso um grande investimento em educação. Contudo, o conhecimento da população em geral que se deseja não se encontra em livros ou pesquisas, mas está na experiência diária com ambientes acessíveis. Recentemente, tive oportunidade de conversar com jovens de 13 a 16 anos nos USA, e pude ouvir deles o que pensam sobre a acessibilidade que conhecem. Por estarem expostos a ambientes acessíveis, muitos deles já dispõem não só da referência sobre uns e outros elementos de acessibilidade que vêem em lojas, escolas, igrejas, centros cívicos, más também de um posicionamento crítico sobre a qualidade das soluções ambientais para a acessibilidade. .......................................................................topo da página 2) Em países de primeiro mundo a preocupação com deficientes físicos, crianças e idosos é muito maior? Por que? Em países avançados em tecnologia, a preocupação com as condições de vida das pessoas é maior. As pessoas são cidadãos que pagam impostos e que exigem qualidade pelos serviços públicos. Em consideração às crianças, vale notar que muitos países avançados em tecnologia estão com um decréscimo da população não imigrante. Por isso, investir no bem estar da população local representa em maior incentivo para conter o avanço de migrações. Quanto aos idosos, é importante lembrar que o mundo está envelhecendo. Nos países com maior avanço de tecnologia, os ganhos com a produção industrial em várias décadas resultou numa maior facilidade para infra-estrutura e serviços. Assim, os idosos dispõem de maiores recursos financeiros e de maiores recursos institucionais disponíveis. Infelizmente, países como o Brasil tem uma crescente população idosa sem o devido respeito e tratamento digno quanto à melhoria das condições de transporte, serviços e uso do meio edificado. .......................................................................topo da página 3) Cite exemplos de modificações num projeto que pode levar benefícios aos deficientes? Posso citar exemplos de projetos que caso
sejam concebidos originalmente para serem acessíveis podem levar benefícios a
todos, com ou sem deficiência aparente ou permanente: Portas mais largas
facilitam a vida de todos mesmo que sejam instaladas em banheiros. Devemos
acaber com o uso da porta de 60cm. Ao invés disso, deveríamos usar no mínimo
portas de 80cm. Assim, os cômodos poderiam ser mais espaçosos e permitirem que
pessoas com dificuldades na locomoção pudessem se movimentar mais livremente.
Armários e outros mobiliários sobre rodas são outra simples mas eficiente
solução. Ao invés das pessoas terem que se contentar com o que lhes são
apresentados em instalações prediais, a fácil movimentação de móveis e de
superfícies de trabalho permitem que as pessoas de diferentes idades e
habilidades possam criar o espaço que necessitam. Pensando em modificações, posso citar modificações na atitude dos construtores que passem a oferecer unidades habitacionais com pelo menos um dos quartos e banheiros com espaço suficiente para a manobra de cadeira de rodas. A cadeira de rodas serve aqui como um elemento básico de dimensionamento. Contudo, o benefício se estende a bem mais pessoas do que usuários de cadeira de rodas. Um banheiro amplo pode ser usado por mais de uma pessoa. Imagine uma senhora dando banho em seus filhos pequenos. Edifícios de apartamentos que oferecem uma vaga extra na garagem para visitantes reduz o congestionamento nas ruas e permitem que pessoas muito idosas ou com outros problemas na mobilidade tenham mais liberdade ao visitarem parentes. Apartamentos que não possuem degraus no acesso vertical pela garagem, certamente facilitam a vida dos moradores que chegam com as compras dos supermercado. .......................................................................topo da página 4) Reformar uma edificação ou residência adaptando a um projeto acessível tem um custo alto? Sim. Dependendo das condições existentes, uma residência pode ter custos muito altos para adaptação. Considere por exemplo, casas construidas em vários níveis, e com cômodos muito pequenos em lotes estreitos. Em situações assim, é recomendável que os residentes se mudem para outro lugar mais plano e mais espaçoso. Interessante é que as condições necessárias à acessibilidade sugerem que espaços de grande inclinação sejam melhor aproveitados como ambientes externos mais apropriados para a contemplação do que ao uso propriamente dito. Imaginem se toda a natureza do Rio de Janeiro fosse aproveitada para construção: como reagiríamos ao ver o Pão de Açucar transformado num bairro de habitações verticais ou conjunto habitacional? A verdade está em garantirmos um maior equilíbrio entre espaços naturais livres e impróprios à acessibilidade, espaços naturais livres e adequados à acessibilidade, espaços edificados existentes e impróprios à acessibilidade e espaços edificados recém-edificados, reformados ou a construir, todos acessíveis para pessoas de todas as idades e habilidades. Cada vez que o objetivo de se criar ambientes acessíveis é sinceramente perseguido, o resultado é a aplicação de recursos com garantido retorno e sucesso a longo prazo. .......................................................................topo da página 5) Se for feito as adaptações ainda na fase de projeto fica bem mais em conta? Claro! Mas devemos ter em mente que as adaptações só funcionam quando deixam de serem adaptações e passam a fazerem parte da idéia original. Quero dizer, temos que nos acostumar a não criarmos mundos paralelos: um, com adaptações, e outro, sem adaptações. Um espaço planejado para ter acessibilidade se ajusta aos usuários do mesmo modo que os usuários se ajustam a suas funções. Um bom exemplo é o do banheiro acessível: se adaptações são necessárias, a grande questão se restringe ao momento certo para a adaptação ocorrrer. Certamente, a adaptação será tarde em relação à necessidade das pessoas. .......................................................................topo da página 6) Quais são as novidades do assunto hoje no EUA ou no Brasil? A maior novidade está no Congresso Internacional
sobre Design Universal (*) que está para ocorrer no Rio de Janeiro, de 8 a 12 de dezembro. (*) O uso da palavra design ao invés da simples tradução, desenho, está na tentativa de guardar o significado original que é muito mais amplo. Design significa em inglês mais do que desenho, ou simples projetação, uma vez que compreende a própria forma de pensar que leva-nos a soluções de forma e conceito como também sobre o uso). O Congresso tem o nome de Design for the 21st Century (Design para o século vinte e um) e está em sua terceira edição. Pela primeira vez, estudiosos de todo o mundo irão contemplar a realidade de países ainda em processo de industrialização da tecnologia. O Brasil deverá participar como um anfitrião que conseguiu muitos sucessos na implantação de uma política nacional para a acessibilidade. As normas técnicas para a acessibilidade ambiental inclui importantes determinantes construtivos para a boa qualidade no meio edificado e nos transportes. Minhas maiores expectativas estão no surgimento de fortes redes de intercâmbio e de informação entre as experiências de países participantes de modo que o ensino fundamental de engenharia e arquitetura desmistifique o grande desafio de se construir certo para todos e não somente para pequenos grupos isolados sob o título de populações especiais. Revista Obrasonline Gabriela Godoy, http://www.obrasonline.com.br 13/abril/2004 /\ início |
Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais 08-08-2010