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"Acesso ao Meio Edificado: Pesquisa sobre Ergonomia para a Acessibilidade Ambiental,"

Edward Steinfeld e outros, 1979

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Introdução

Este relatório é uma revisão literária no campo de conhecimento chamado "ergonomia" ou " fatores humanos", para informação pertinente ao design de edifícios sem barreiras. Textos de ergonomia básica foram revisados para servirem de informação. Citações de artigos e livros sobre tópicos pertinentes foram obtidos por serviços de computador para resumos, bibliografias e por revisão do catálogo de três periódicos: Ergonomia (Ergonomics), Ergonomia Aplicada (Applied Ergonomics) e Fatores Humanos (Human Factors).

O objetivo é identificar o papel da pesquisa sobre ergonomia, determinando como ambientes acessíveis deveriam ser projetados. Esta determinação pode ser usada para definir a amplitude dos esforços de pesquisa adicional e para desenvolver métodos de pesquisa mais aprimorados.

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Origens e Abrangência da Pesquisa sobre Ergonomia

Murrell define ergonomia como, "o estudo científico da relação entre o homem e o ambiente de trabalho” (Murrell, 1965, xiii). Isso inclui ferramentas, materiais, métodos de trabalho, organização de trabalho, e condições ambientais de clima, iluminação, volume espacial, etc. Murreil traça o início e desenvolvimento deste campo de pesquisa para a década de 1920. Na Inglaterra, havia um esforço para estudar fatores que contribuissem para melhoria de resultados do trabalho naquela época; o Grupo de Pesquisa sobre Fadiga Industrial, por exemplo, desenvolveu estudos sobre o desempenho de trabalhadores industriais. No E.U.A., o Taylor e Gilbreth desenvolveram estudos sobre os princípios de tempo-movimento.

Os anos trinta, como era de se esperar, trouxeram um declínio de interesse neste campo uma vez que a força de trabalho humana era desprezível e havia pouco valor em pesquisas para torná-lo mais eficiente. Com o advento de Segunda Guerra Mundial, porém, o equipamento se tornou mais complexo com velocidades e exigências operacionais tão rápidas que a pouca eficiência e o fracasso operacional passaram a ser assuntos críticos. A melhor incorporação destes problemas é o avião. Na Inglaterra e nos E.U.A., extensos programas de pesquisa foram desenvolvidos, principalmente quando associados com problemas militares.

Em 1949, na Inglaterra, um grupo interdisciplinário de investigadores em desempenho humano formou a Sociedade de Pesquisa de Ergonomia (Ergonomics Research Society) e adotou a palavra " ergonomia, do grego ergos: trabalho, e nomos: leis naturais. Desde então, ergonomistas, ou os estudiosos da ergonomia, fizeram um extenso número de trabalhos relacionados com programas espaciais, como também industriais e de defesa militar. Como Murrell explica, eles trocaram o enfoque sobre seres humanos enquanto produtores para seres humanos enquanto controladores. Isto trouxe uma expansão de interesses de pesquisa dos aspectos fisiológicos de trabalho para o ponto onde os investigadores da ergonomia estão estudando agora, incluiindo-se os componentes cognitivos de trabalho (McCormick, 1970, pp 223-251,; Steidl, 1968).

A pesquisa sobre ergonomia sempre foi encarada como geradora de informação para o design de ambientes. A necessidade para tal informação resultou na publicação de muitos manuais que são essencialmente livros de receitas de design, recheados de recomendações que se baseiam em pesquisa e prática.

Geralmente, a ergonomia está relacionada com:

1. percepção de informação,incluindo mostradores e outros painéis visuais, audíveis e táteis e de comunicação por fala;

2. mediação dos processos de controle, como reconhecimento, aquisição de habilidades ou conhecimento, e controle de respostas;

3. atividades físicas de produção, inclusive o desempenho do sistema ósseo-muscular, o estresse fisiológico, gastos de energia, tempos de reação e de resposta;

4. trabalho com design espacial, inclusive antropometria, arranjo e utilização de espaço físico; e

5. meio ambiental, incluindo-se iluminação, climatização e acústica.

Este vasto âmbito de considerações evoluiu gradualmente pelo uso de um conceito em que o ser humano é considerado como um componente num sistema maior, geralmente em associação com uma máquina. Pelo conceito de um ‘sistema ser humano-máquina,’[1] analistas reconhecem as complexas inter-relações entre o controlador humano e os componentes físicos do sistema. A visão do ser humano está frequentemente baseada na teoria de estímulo-resposta do comportamento humano.

Por exemplo:

“A informação pode também ser transmitida pela sensação de cheiro, pelo toque, pelas sensações de calor ou frio, ou por quinestesia. Esta informação é carregada pelo sistema nervoso ao mecanismo central do cérebro e medula espinhal onde a informação é processada para chegar a uma decisão... tendo recebido e processado essa informação, o indivíduo entrará em ação então como resultado da decisão e ele fará isto pelo mecanismo eficaz de resposta..." (Murrell, 1965, p 15).

A meta de todos os sistemas ‘ser humano-máquina’ é alcançar o nível mais eficiente de produção (que pode ser definido pelo analista em ergonomia como trabalho ou simplesmente resposta) com um mínimo de erros por parte do humano ou fracassos por parte do sistema como um todo.

O sistema ‘ser humano-máquina’ é visto como sendo imerso num meio ambiental com influências inumeráveis no estado do sistema. Embora, como na citação acima, a tarefa primária de tal um sistema seja a tradução de uma inserção de informação numa ação por um humano,o pelo analista em ergonomia compreende que o nível de iluminação geral, o clima atmosférico e outros fatores ambientais do meio têm um efeito importante no desempenho do sistema além dos efeitos nas imediações da máquina.

A atenção para o meio ambiental tem aumentado nos últimos anos de forma que os investigadores em ergonomia se preocupam agora com ambientes em escala muito grande tais como sistemas de trânsito de massa e as plataformas espaciais. O enfoque novamente tem sido na eficiência de desempenho do sistema.Distintamente de outras áreas de pesquisa sobre a relação das pessoas com seu meio ambiental, a pesquisa em ergonomia tem produzido dados concretos e consistentes que são diretamente aplicáveis em design com a meta de efetuar um melhor ajuste entre pessoas e os espaços onde ocupam.

Isso pode se dever às medições bem sucedidas usadas neste campo -- medidas de desempenho humano em termos de eficiência. O equipamento projetado de acordo com princípios de alta confiabilidade sobre o desempenho humano tem probabilidade de ser mais seguro, mais fácil de ser operado, menos cansativo, e mais adequado ao uso.

Embora a pesquisa sobre ergonomia tenha se preocupado principalmente com sistemas homem-máquina, muito do conhecimento que gerou pode ser aplicado a problemas relativos à projetação de edifícios. De fato, alguns manuais de ergonomia têm seções dedicadas à configuração de ambientes. Além da transferência de conhecimento existente, as abordagens de pesquisa sobre ergonomia podem ser extremamente úteis na geração de critérios de projetação para edifícios.

Para facilitar tal transferência e geração de informação, seria útil se nós pudéssemos conceber uma relação ‘ser humano-edifício’ da mesma forma que um analista em ergonomia concebe de uma relação ‘ser humano-máquina.'

Num sistema ‘ser humano-máquina,’ o operador humano obtém informação da máquina por mostradores ou outras formas de leitura de informação. O operador também obtém, do meio ambiental, condiciona informações sobre as condições de temperatura, iluminação, etc. Depois de tomar decisões sobre a informação que recebeu, os ser humano atua normalmente controlando a máquina.

Num meio edificado, a máquina ou equipamento não é a fonte primária de informação nem é seu controle o principal objetivo da atividade humana. Assim, o conceito convencional de sistema ‘ser humano-máquina’ não pode ser muito útil para os fins de análise, quando aplicado a edifícios. Porém, a máquina em seu próprio ambiente e o edifício podem ser concebidos tais como ambientes-tarefa: ambientes dentro os quais uma tarefa humana serve a certo propósito. Tal concepção é um modelo mais amplo da relação ‘ser humano-ambiente’ que é tipicamente usado nas análises em ergonomia. Ainda assim, é consistente com a abordagem de ergonomia no estudo de postos de trabalho. Na verdade, a pesquisa sobre postos de trabalho quando relacionada de forma análoga sobre o serviço doméstico tem direta aplicação para projetos de edificações (Grandjean, 1973).

Considerando-se o conceito de ambiente-tarefa, o objetivo da pesquisa ou do design é identificar o ambiente mais apropriado para a tarefa humana em estudo.

Como um exemplo, um objetivo de design é definir recursos ambientais para que pessoas possam encontrar facilmente seu caminho em edifícios. A pesquisa pode identificar de que tipo de recursos são necessários. Outra meta de design é a configuração de espaços que possibilite o menor tempo de percurso entre uma série de locais dentro de um edifício. A pesquisa poderia identificar os tempos de percurso e quais locais deveriam ser os mais próximos.

Entre as muitas tarefas no design de todos os edifícios, um amplo grupo de tarefas se refere ao acesso. O projeto de um edifício concebido como um ambiente-tarefa para acesso permite-nos obter uma análise que pode identificar, em termos de ergonomia, todas as considerações importantes para assegurar a acessibilidade aos edifícios por pessoas com deficiência. A experiência de pesquisadores em ergonomia na concepção de ambientes-tarefa deveria prover uma nova abordagem para um design sem barreiras, e isso colocaria o conhecimento sobre acessibilidade numa estrutura integrada com o conhecimento relativo ao desempenho humano como um todo. Se isto pode ser realizado, estudos mais sistemáticos e abrangentes de acesso podem ser desenvolvidos.

Além disso, os critérios atuais para o design sem barreiras são altamente fragmentados e não têm nenhuma coerência organizacional global. Isso gera dificuldades em interpretação, falta de flexibilidade, e um entendimento pobre por parte desses que usam esses critérios. O conceito aplicado a um edifício como sendo um ambiente-tarefa para acesso poderia prover a ferramenta organizacional necessária para melhorar a eficácia dos critérios do design sem barreiras.

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Edifícios como Ambientes-Tarefa

Acesso é relativo ao movimento dos indivíduos nos edifícios e pelos edifícios além dos equipmentos operacionais nele encontrados. Isto inclui estas tarefas:

1. atravessar aberturas,
2. operar controles eletrônicos e mecânicos,
3. mover-se nas rotas de percursos,
4. efetuar mudanças em nível,
5. transferir-se de uma a outra postura corporal,
6. procurar por direções - achar informação,
7. interpretar a informação de mostradores e painéis,
8. efetuar uma série de movimentos num espaço limitado,
9. passar através de um tráfego humano e veicular, e
10. evitar perigos no caminho de acesso.

Em termos de acesso, um edifício é bem sucedido quando facilita as tarefas acima numa maior ampitude possível. Um ambiente-tarefa que impede ou inibe as pessoas de completar quaisquer destas atividades apresenta barreiras ao acesso. Pessoas com deficiências fisicas vivenciam tais barreiras constantemente. Porém, a conceituação da acessibilidade da forma descrita acima destaca o fato que as pessoas sem deficiência aparente também vivenciam muitas barreiras para ter acesso. Por exemplo, um problema comum em edifícios de uso público é o das pessoas encontrarem um sanitário público. Embora uma pessoa que usa cadeira de rodas possa não vir a usar um banheiro público mal-projetado quando o encontrar, as pessoas em geral com ou sem deficiências sofrem dificuldades na procura por sanitários públicos.

Assim, o entendimento sobre acesso como um grupo de tarefas no uso de edifícios comum a todos os usuários identifica sua importância como uma forma geral de caracterizar o sucesso de seu design. Claramente, projetar um edifício como um ambiente-tarefa para acesso é de importância tanto para pessoas que tem ou não tem uma deficiência aparente[2].

Definição do Ambiente-tarefa

Começando com o grupo de tarefas identificadas como componentes de acesso, é possível identificarmos a informação explícita e necessária para se projetar um edifício acessível. Estas necessidades são apresentadas na Tabela 1.

Associada com as necessidades de informação existe uma série de contingências específicas do problema que afetam a definição do ambiente-tarefa. Por exemplo, uma cabine de sanitário que é usada só por pessoas que caminham não tem que ser ampla o bastante para acomodar uma cadeira de rodas. Uma vez que só um pequeno número de pessoas em cadeiras de rodas usaria as cabines mais espaçosas de sanitário público seria preciso para acomodá-lo somente um pequeno número dessas cabines.

Qualquer ambiente-tarefa para acesso pode ser definido desde que seja obtida a informação de forma precisa e identificadas as contingências para um certo problema de design num edifício em particular. Ocorrerão falhas de conhecimento caso os dados não estiverem disponíveis paracobrirem toda a informação necessária.

O restante deste relatório descreve a informação da pesquisa ergonômica que está relacionada ao design para acesso ao meio edificado. Muito do trabalho no campo da ergonomia se refere a considerações sobre ambientes como sendo algo diferente de edifícios. Porém, usando-se o conceito de ambiente-tarefa, é possível transferirmos muito do conhecimento existente da ergonomia para o contexto de edifícios.

Este relatório não detalhará recomendações de pesquisa específicas para design; esse nível de informação pode ser encontrado mais adequadamente noutro lugar. Aqui, as preocupações principais estarão avaliando o âmbito de pesquisas já realizadas no passado, os princípios que são úteis para design, os métodos usados em pesquisa, descobertas de alguns estudos selecionados, as limitações, e o direcionamento de investigações para o futuro.

A revisão seguinte do conhecimento em ergonomia tem enfoque nestas quatro áreas:

A. Antropometria Funcional,
B. Biomecânica,
C. Mostragem de Informação,
D. Ambientes-tarefa Específicos.

Tais áreas podem prover informação sobre acesso. Alguns comentários pertinentes em métodos de pesquisa foram incluídos. A discussão dos resultados de pesquisa só está limitada aos estudos que especificamente se voltaram para a acessibilidade de pessoas com deficiência física no meio edificado.

fim da parte 1 ......................................................................

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